O legado de Kongjian Yu no paisagismo

Nosso encontro de hoje vem com uma nota de pesar. Hoje completam-se dez dias do falecimento abrupto de Kongjian Yu, doutor em arquitetura e especialista em Soluções baseadas na Natureza, num acidente aéreo no Mato Grosso do Sul. Presente no Brasil para um evento da Bienal de Arquitetura, Yu era professor da universidade de Pequim e o criador do revolucionário conceito das cidades-esponja. Hoje, dedicamos nosso espaço à memória dessa brilhante cabeça da arquitetura sustentável, honrando seu legado que guiará o urbanismo mundial por gerações.

Quem foi Kongjian Yu?

Yu foi uma referência no universo do paisagismo. Fundador do escritório Turenscape, é reconhecido como o criador do conceito das “cidades-esponja” – uma estratégia de resiliência urbana frente às mudanças climáticas que utiliza estruturas verdes, como parques e praças, para absorver o excesso de água da chuva. Com o aquecimento crescente da atmosfera, o ciclo da água torna-se mais intenso, ampliando os padrões de precipitação e transformando a forma como compreendemos áreas de seca e umidade. Segundo um estudo publicado pela instituição WaterAid (2025), cerca de 90% dos riscos associados às mudanças climáticas estão diretamente relacionados à escassez ou ao excesso de água, como secas, alagamentos e enchentes. A solução proposta por Yu foi inspirada na Cidade Proibida, construída no século XV em Pequim, que permaneceu intacta mesmo após os intensos alagamentos de 2012. Isso evidencia que, enquanto as cidades contemporâneas dependem fortemente da infraestrutura de concreto e das redes de tubulações, acabam negligenciando soluções que a natureza oferece há milênios – como a infiltração natural da água no solo.

O que são as Cidades Esponja?

Conhecidas na China como “cidades-esponja”, nos Estados Unidos como Nature-based Solutions (Soluções baseadas na Natureza – SbNs) e, no Reino Unido, como Sustainable Drainage Systems (Sistemas de Drenagem Sustentável), essas iniciativas são definidas como “ações para proteger, gerir de forma sustentável e restaurar ecossistemas naturais ou modificados, que abordam desafios sociais de maneira eficaz e adaptativa, proporcionando simultaneamente benefícios para o bem-estar humano e para a biodiversidade”. Mais do que estratégias de resiliência climática, trata-se de soluções que precisam ser incorporadas ao planejamento urbano de qualquer cidade, pois também promovem integração social, embelezamento da paisagem e melhoria do bem-estar coletivo.

Além dessas nomenclaturas, a aplicação também é conhecida como Water-Sensitive Urban Design (Desenho Urbano Sensível à Água – WSUD) na Austrália, país que vem revolucionando seus sistemas urbanos por meio dessa metodologia. Por ser um continente insular com clima subtropical úmido, a Oceania enfrenta riscos cada vez mais significativos em suas zonas urbanas. Nesse contexto, a Austrália tem se destacado na liderança de estudos que unem tecnologia e sustentabilidade, aplicando ferramentas de Análise de Decisão Multicritério em GIS, que integram softwares de cartografia, inteligência artificial e técnicas das Cidades-Jardim, para propor novas estruturas verdes voltadas à contenção pluvial e à regulação climática das cidades.

No Brasil, como aplicamos essas ideias?

No Brasil, inúmeros estudos já demonstram que as ideias de Yu são não apenas revolucionárias, mas também indispensáveis não só sob a perspectiva climática, mas para a qualidade da vida humana em seu conjunto. Bem-estar, coesão socioambiental e estética urbana são apenas alguns dos inúmeros benefícios que as cidades baseadas na natureza oferecem além da mitigação dos impactos do clima. Não por acaso, a arquitetura biofílica está em alta: a natureza nos oferece todas as soluções necessárias para uma vida mais digna e confortável.

Curitiba, cidade cuja região metropolitana é a casa da Lovato, é um exemplo marcante de como as cidades podem se integrar à natureza. A ideia de equilibrar o acesso aos recursos sempre esteve presente no seu planejamento urbano e ajudou a moldar esse olhar inovador. Não por acaso, a capital paranaense é conhecida como “cidade-jardim”, um conceito inspirado nas ideias de Ebenezer Howard que defende cidades mais autossuficientes, unindo o melhor do meio urbano e do rural. Hoje, esse ideal aparece em práticas cada vez mais comuns, como as hortas urbanas, que além de embelezarem os espaços, também fortalecem a resiliência das cidades e aproximam as pessoas da natureza. E é uma das grandes bases das Cidades-Esponja, que usam justamente soluções tão comuns quanto parques urbanos e praças para propor soluções socioambientais e climáticas para os espaços urbanos.

Ao olharmos para o futuro das cidades brasileiras, é impossível ignorar a urgência de soluções que conciliem tecnologia, natureza e qualidade de vida. Jardins de chuva, parques integrados e sistemas de drenagem sustentável não são apenas recursos técnicos: são convites para uma nova forma de habitar o espaço urbano, em equilíbrio com o meio ambiente e em sintonia com as necessidades humanas. Na Lovato, acreditamos que o design vai além da estética: ele é uma ferramenta de transformação social e ambiental. Por isso, seguimos atentos às ideias que moldam cidades mais resilientes, inspiradoras e humanas, como as de Kongjian Yu na arquitetura, e levamos esses princípios para cada detalhe do que criamos.

É com esse pensamento inspirador e um profundo lamento pela perda de um profissional tão fundamental como Kongjian Yu que nos despedimos por essa sexta e te convidamos para nosso encontro da semana que vem, onde vamos explorar um pouco sobre a história de diferentes vertentes do design e como elas inspiram a percepção humana. Nos vemos na próxima semana!

Um abraço,
Studio Lovato

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