Minimalismo e maximalismo na história do design

A arte possui inúmeras vertentes e movimentos, e as formas de fazer a arte acontecer também. O design, por exemplo, é uma dessas formas: parece básico, mas é sempre bom lembrar que o design, conceito que ganharia força apenas no século XX, se consolidou a partir da necessidade de um desenho verdadeiramente industrial, seriado e sistematizado por meio de projetos precisos. Antes da Revolução Industrial, o que é considerado hoje como design era um ofício, uma arte, uma especialidade. Havia projetos, sim, mas o aspecto da formalização da produção em série que cunhou o desenho industrial per se só se tornou uma grande necessidade em um cenário fabril moderno. Um sapateiro pré-Revolução Industrial, por exemplo, exercia o seu ofício de forma artesanal, criando produtos únicos de acordo com a necessidade de cada cliente. Se o produto era minimalista, maximalista ou o que fosse, essa escolha partia exclusivamente da habilidade do artesão e do que era combinado com o cliente. Baseava-se, claro, na mesma necessidade que orienta os produtos de design; porém, de modo individual, exclusivo e orientado em primeiro lugar pela demanda do cliente. Essa lógica persistiu por séculos, mas foi progressivamente substituída pela produção em série, característica da era industrial.

A forma como usamos certas terminologias também evoluiu de maneira muito drástica com a transição, no que diz respeito a produtos, entre a “arte pela arte” e o design de produtos. Alguns termos, porém, foram cunhados apenas sob esse novo paradigma industrial – e a ideia de minimalismo e maximalismo faz parte disso. 

O minimalismo é um movimento do design que ganhou força a partir da década de 1960 em parte como uma resposta à complexidade visual e conceitual de movimentos anteriores, como o construtivismo. Este, por sua vez, é um conceito que surgiu no leste europeu, especialmente na Rússia, e que buscava estabelecer uma linguagem universal para o design. Traços menos carregados de informação, em teoria, seriam compreensíveis e apreciáveis por toda a humanidade, viabilizando ainda mais a serialização do design industrial moderno e simplificando a criação de produtos mais globais. Formas geométricas, cores sólidas e traços objetivos marcaram esse movimento, que evoluiu naturalmente para o minimalismo através do trabalho de grandes nomes como Sol LeWitt, Frank Stella e Ludwig Mies van der Rohe (este último responsável por popularizar a máxima “menos é mais” no campo da arquitetura).

O maximalismo, em contrapartida, surgiu como uma resposta ao minimalismo, mas tem suas raízes na abundância presente em diversos movimentos artísticos anteriores à Revolução Industrial. É curioso, inclusive, pensar que o minimalismo se fortaleceu após a década de 1960, enquanto o maximalismo começou a ganhar forma ainda no período pós-Segunda Guerra. Parece anacrônico que uma resposta venha antes da pergunta, por assim dizer. No entanto, justamente por se inspirar em movimentos mais clássicos, como o Barroco e o Rococó, considera-se que ambos se desenvolveram paralelamente até se tornarem inevitavelmente lados opostos da mesma moeda no design. Na realidade, essa linha do tempo é bem mais antiga: estilos mais contidos sempre coexistiram em contraste com os mais exuberantes. Tempos de fartura sempre surgiram em resposta a períodos de sutileza (e vice-versa), e não apenas na arte.

No Brasil, é impossível duvidar do aspecto maximalista da nossa arte e cultura. O maior indício disso está nos aspectos mais basais das nossas manifestações artísticas: amamos cores, movimentos, fartura. Nas artes visuais, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Oswald de Andrade são excelentes exemplos dessa cultura vibrante. As cores das manifestações culturais indígenas, nativas ao nosso país e presentes em todos os aspectos da sua existência. O samba, o frevo, as chimarritas. A nossa culinária, desenvolvida sobre um solo em que tudo que se planta floresce, é colorida com uma diversidade exuberante de ingredientes extremamente diversos e marcada por sabores intensos. Tudo nosso é maximalista, abundante, farto. 

E não é assim no mundo todo, será? Não é fato que quase toda cultura nacional ao redor do mundo é construída, em algum grau, sobre uma abundância de cores e individualidades? As cores dos espetáculos indianos e das festas mexicanas ou os detalhes das roupas germânicas e japonesas, por exemplo, mostram que as manifestações culturais ao redor do mundo são carregadas da identidade única de cada nação.  Já as manifestações minimalistas contemporâneas, em contrapartida, são inspiradas por um estilo global: as arquiteturas de interiores menos detalhadas, com paredes neutras e mobílias perfeitamente quadradas, por exemplo, são espelho de um estilo internacional – como dita o minimalismo desde o seu surgimento.

Ambos são belos da sua própria maneira. E gostamos desse estudo justamente por nos mostrar que há espaço para tudo num universo contemporâneo conduzido pela precisão do desenho industrial. Afinal, fazemos artesanato e fomos construídos sobre o “feito à mão” – muitas vezes menos preciso e instantâneo, mas isso também faz parte da sua beleza. A beleza de ter algo único para si, feito com amor através de mãos que dominam um ofício ancestral. Porém, é uma beleza que também acompanha a globalidade da arte e que sabe ser minimalista e maximalista quando cada um desses movimentos mais convém. Uma arte, com muito orgulho, nossa. 

Na semana que vem, vamos falar sobre um dos grandes eventos da arquitetura contemporânea: a Bienal de Veneza e a forma como ela conduz justamente esse pensamento global da arte. Convidamos você, como sempre, para continuar explorando conosco a história do design e seu reflexo naquilo que a Lovato entrega. Nos vemos semana que vem!

Um abraço,
Studio Lovato

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