
Como o mercado brasileiro dita o design global?
Não é de hoje a relação intrínseca do Brasil com o design global. A combinação entre uma identidade cultural singular e a nossa forma de absorver e evoluir influências internacionais torna o nosso percurso na história do desenho industrial uma trajetória a ser reverenciada. E hoje, para celebrar a última semana do mês da nossa pátria, trouxemos para você uma viagem através das nossas raízes criativas (e uma curta carta de amor para nossas origens).
A linha do tempo do design brasileiro
Ainda que as primeiras grandes participações do nosso país no design tenham surgido nos anos 30, a nossa identidade artística contemporânea começa a tomar forma na famosa Semana de Arte Moderna de 1922. Sediada no Theatro Municipal de São Paulo, a Semana reuniu grandes nomes da arte moderna brasileira como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos. Seu principal objetivo era romper com os padrões europeus de arte trazidos com a colonização portuguesa e resgatar uma identidade verdadeiramente nacional: nesse momento, inspirações indígenas, locais e populares passaram a ser grandemente valorizadas através de formas orgânicas, cores ousadas e uma linguagem absolutamente autônoma.



Esse desejo por uma arte que fosse totalmente nossa abriu caminho para a criação de institutos e escolas de design que rapidamente conquistaram espaço sob o olhar global – como o IAC, em São Paulo. Sediado no MASP e dirigido pela italiana Lina Bo Bardi, sua fundação em 1951 demonstra como o resto do mundo passou a enxergar o Brasil como um grande laboratório de arte: nossas ideias eram frescas, inéditas e carregadas de uma identidade totalmente instigante. Foi também nesse momento que a arquitetura moderna começou a se consolidar por aqui, inclusive, e não só por Lina. Grandes nomes como Lucio Costa e Oscar Niemeyer (que conduziram o desafio da construção da nossa capital), por exemplo, ajudaram a importar as ideias dos traços minimalistas do modernismo.
O filtro da brasilidade, porém, esteve sempre presente. Nossos grandes arquitetos combinaram os ideais modernistas com a nossa visão orgânica e integrada à natureza, e abriram espaço para o chamado “estilo internacional” – assim nomeado justamente por combinar elementos de múltiplas origens. E foi nesse contexto que a história do design brasileiro se sedimentou: a partir da motivação criativa obtida na arquitetura, os próprios arquitetos começaram a se aventurar na criação de peças de design – aqui, com destaque especial às poltronas. Nesse contexto, o uso da madeira tropical e das técnicas artesanais (que guiam a Lovato até hoje!) foi um dos traços que mais lançaram nosso país em direção à apreciação global. Ícones como a Poltrona Mole, de Sergio Rodrigues, foram premiados internacionalmente e tornaram-se símbolos de toda uma geração de design.
Entre as décadas de 70 e 90, contudo, o design nacional passa por uma fase marcada por desafios. O advento de crises políticas e econômicas levou o setor a buscar soluções mais acessíveis, com menos recursos. E foi nesse cenário que surgiu um novo caminho para florescer: o design gráfico cresceu como nunca, estabelecendo a criação de marcas, editoriais e materiais publicitários brasileiros como um produto nacional espetacularmente criativo. Com a mistura de referências populares e do nosso espírito leve e bem-humorado, nossos projetos elevaram os patamares do design e criaram uma identidade resiliente, popular e absolutamente icônica.

Com a abertura do mercado internacional conquistada pelos movimentos globais dos anos 90, nosso diálogo também se amplificou. Nesse momento, proliferam as agências e os estúdios especializados como resposta ao crescimento das escolas de arquitetura e design ao redor do país. Eventos como a Bienal Brasileira de Design tiveram suas primeiras edições, sedimentando o país também como um palco global de ideias. Nesse contexto, figuras brasileiras globais como os Irmãos Campana levaram nossas criações para museus e galerias internacionais, mesclando estilo com técnicas artesanais de uma forma que encanta o olhar internacional até hoje.
E nos dias atuais – quem somos?
Atualmente, nosso papel no design global continua sendo o de uma brilhante incubadora de ideias. Apesar de termos entrado mais tarde no setor industrial, nossa criatividade e identidade são únicas, persistentes e se manifestam na inventividade singular do povo brasileiro. Nossas origens na arquitetura e nas artes visuais enriquecem o ponto de vista técnico dos nossos projetos, enquanto a tradição artesanal e as raízes nativas fortalecem a identificação nacional das nossas criações.

Não é errado, portanto, dizer que a essência artesanal é o que sustenta a brasilidade do design. As técnicas manuais ancestrais são o que sustenta o que há de mais verdadeiramente nativo em nós: aquilo que jamais foi importado ou emprestado de outra nação. Aquilo que nós criamos, aquilo de que somos feitos. Que ninguém consegue imitar – pudera, ninguém tem as nossas mãos. E por aqui, nós dominamos isso: não abrimos mão da tecnologia, mas não deixamos que ela tome o lugar da técnica, da cor, do movimento que nosso país nos ensinou. Nesses últimos dias do mês da pátria, fazemos questão de nos lembrar que, quando dizemos que “nós somos feitos de nós”, também falamos que somos feitos das nossas raízes e de tudo que elas ensinaram para nós. Com amor, orgulho e brasilidade, nos vemos na semana que vem.
Um abraço,
Studio Lovato
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