Bienal de Arquitetura de Veneza: um palco de arte, sustentabilidade e inteligência coletiva.

“Intelligens. Natural. Artificial. Collective”. O tema da Bienal de Arquitetura de Veneza, definido por quatro palavras muito pontuais, pode causar certa dúvida à primeira vista. De início, parece um erro de digitação – porém, “intelligens” é um neologismo altamente relevante. Gens, do latim, significa “pessoas” e sugere uma colocação genial do ser humano no centro de um debate sobre nossos possíveis – e prováveis – futuros. Questões sobre o Antropoceno, as inteligências artificiais, a emergência climática e tantas outras temáticas imersas num mundo em constante e acelerada transformação são colocadas em primeiro plano em uma exposição encantadora, instigante e profundamente necessária.

Sob a curadoria de Carlo Ratti, a Bienal de 2025 acontece, de forma extraordinária, em diferentes pontos da histórica cidade de Veneza e apresenta um pavilhão dedicado a cada uma das 66 nações convidadas. Como em todas as suas edições, o fio condutor da exposição lança luz sobre os desafios enfrentados pelo mundo contemporâneo e propõe um debate multifacetado – construído sob a ótica interna de cada país – sobre as vivências compartilhadas pela espécie humana como uma unidade. Guerras, migrações e outras crises já foram temas amplamente explorados pela mostra e, agora, o clima e a tecnologia se unem sob uma grande questão: como combinar as múltiplas inteligências existentes no mundo atual para repensar nossos ambientes construídos?

O tema não surge por acaso. A curadoria evidencia como a arquitetura sempre foi uma resposta à hostilidade: das cabanas primitivas aos arranha-céus, o design humano foi sempre guiado pela necessidade de abrigo e sobrevivência. Mas não apenas isso: é também guiado pelo otimismo, pelo impulso de preencher as lacunas de um mundo que, por sua própria natureza, pode ser hostil. No entanto, em um cenário em que a hostilidade é agravada pela própria ação humana, surge a pergunta: como devemos adaptar nossos edifícios, cidades e espaços compartilhados? Se os riscos climáticos e ambientais nascem do front natural – e se a arquitetura sempre foi uma resposta às condições impostas por esse meio -, é natural que exista uma relação direta. Estamos na linha de frente: seja ao projetar cidades resilientes com um urbanismo mais racional, moradas reativas com uma arquitetura mais sensível ou paisagens adaptativas através de um paisagismo responsivo. De toda forma, a Bienal de Veneza de 2025 acende um holofote intenso sobre essas temáticas inspiradoras.

Para nós, não há exemplo melhor disso do que o pavilhão brasileiro da exposição. Elaborado por Luciana Saboia, Matheus Seco e Eder Alencar, do grupo Plano Coletivo, a mostra (RE)INVENÇÃO propõe uma antítese entre o que é visto e o que é sentido, o que é real e o que é divulgado sobre nossa nação enquanto território essencial para a manutenção climática. A exposição se desenvolve em dois atos: o primeiro revisita o passado por meio das recentes descobertas arqueológicas na Amazônia, que comprovam que a paisagem natural vem sendo modificada há mais de 10.000 anos por meio de infraestruturas muito mais sofisticadas do que se imaginava e obras engenhosas dos povos originários; e a antítese contemporânea da exploração desenfreada do bioma amazônico.

No segundo ato, o foco se volta ao presente e às suas estratégias de projeto e infraestrutura. Significados sociais, ambientais e políticos, entre tantos outros, são explorados sob a ótica megalopolitana. Através de cabos, painéis e contrapesos, uma estrutura flutuante, concebida segundo os princípios da economia circular e da reciclabilidade, propõe uma reflexão sobre a instabilidade dos sistemas urbanos atuais e sobre o papel da arquitetura em restaurar o equilíbrio em todas as escalas.

Com encerramento previsto para 23 de novembro, a mostra permanece aberta por mais algumas semanas para visitação, apreciação e reflexão. Por aqui, seguimos encantados por essa temática tão relevante, que desperta um olhar atento sobre o ambiente natural, sua preservação e as evoluções tecnológicas que o cercam. Mais do que isso, trazemos esse debate para o nosso espaço como um convite à reflexão conjunta sobre nosso papel, enquanto mentes criativas, na busca por soluções multidisciplinares para os desafios contemporâneos. Ao passo, claro, que continuamos atendendo às demandas sensíveis de um mercado em constante evolução – e, na semana que vem, vamos falar sobre esse assunto: vamos abordar tendências de arquitetura que tocam a nossa geração e de onde elas surgiram, numa reflexão sobre neuroarquitetura, contemporaneidade e as rápidas evoluções que presenciamos nas gerações atuais. Te esperamos semana que vem!

Um abraço,
Studio Lovato

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